botánica
Entrei calmamente no restaurante, claramente recordo aquele típico da região. As colunas em forma de paralelepípedo, pintadas de um branco já sujo pelo tempo, são disfarçadas pela madeira que nasce do chão até à altura de uma qualquer cadeira. A luz de um dia cinzento penetra as janelas altas e largas e deixa apenas ver a cara de quem me olha, enquanto cumprimento o chefe de sala.
Com um sorriso nos lábios observa-me a D, enquanto a C me olha com um sorriso vertido de desejo e de costas para o namorado que me levanta a mão com toda a admiração construída noutros tempos. O David está atento ao telemóvel, com a cabeça quase paralela à mesa redonda, enorme, onde um castiçal prateado aguenta o peso das velas já consumidas pelo tempo e que brotam cera em cima de um punhado de flores depositadas numa peça de vidro em forma de tubo de ensaio.
No sonho, lembro agora, curiosamente as janelas ficavam do lado direito e não do esquerdo como nas minhas recordações. Dirijo-me ao fundo da sala, sem palavras, sem expressões. Ficam lá uns lavabos com lavatórios enormes perfeitamente encaixados nos balcões em madeira, escura, escurecida pelo desgaste, pelo consumo. A C segue-me, sem medo, notoriamente guiada pela adrenalina e pelo risco que espelhado no olhar. Surpreende-me, e por trás dirige a mão em forma de concha, firme e intencional, para as minhas calças onde o meu pau repousa sempre para ser encontrado. “É hoje que mo dás?”, diz-me a C com um ofegante suspiro ao ouvido, enquanto a adrenalina já lhe guia os dedos para o meu fecho e para a procura de desejo no escuro do meus jeans. Não respondo, deixo que seja ela a seguir o guião do que já está escrito para acontecer, enquanto já sinto os lábios dela a deslizar pelo contorno do meu queixo. Olho a mão dela nos meus jeans, já abertos, de uma qualquer ganga, de fecho amarelo como manda a moda dos 90.
Já me aperta o duro, o já duro e seco, sedento, enquanto já me arranha com as unhas as coxas pela falta de espaço para tanta ansiedade, sede e procura. Endurece, ela roda a mão, aperta e contorna o meu corpo por trás com um abraço que nos faz embater, tocar. Empurro-nos contra a madeira do balcão consumido, empurra-me contra a parede com uma moldura branca aflorada de imagens botânicas. Está na sala quem está esquecido, com pressa baixa-me a calça só de um lado, a outra mão segura a t-shirt amarela e os lábios já me tocam a pele acima do meu deserto.
“É meu!”, diz-me com um soluço de descontrole pela saliva que cobre o meu seco desejo e lhe satisfaz o olhar fixado no meu. Por entre o tremor da boca macia, acordei.